Já se passaram mais de dois anos desde o primeiro caso de Covid-19 no mundo, um acontecimento que mudou as nossas vidas para sempre. Desde então, sofremos com uma grande pandemia que afetou diretamente a forma como vivemos e nos relacionamos. Infelizmente, todo mundo tem uma história triste para contar desse período, seja de algum familiar, amigo próximo, colega de trabalho, etc. Nesta HQ autobiográfica, o autor Guilherme de Sousa irá nos relatar, com muita sinceridade, a sua história, sem nos poupar dos detalhes. Então, esteja preparado.
Acompanhamos desde as primeiras reações dele, de sua família e da família da sua esposa em relação ao vírus. Apesar da sua notável preocupação com os cuidados necessários para minimizar os riscos de contágio, Guilherme precisa conviver com alguns familiares que negam a existência do vírus ou que não acreditam que ele seja perigoso e que, portanto, julgam que não é necessário nenhum cuidado.
Além disso, ele passa a conviver com a avó da sua esposa em sua casa. Ela teve um infarto e precisava de alguns cuidados, então sua esposa decide levá-la para morar com eles. Vale destacar que inicialmente a ideia para esta HQ estava centrada nessa senhora, uma mulher muito religiosa e que levava uma vida muito solitária.
Com a onda crescente de contágios e mortes, precisamos nos adaptar e cada pessoa lidou com isso de uma forma. Por ser muito religiosa, a senhora, avó da esposa do Guilherme, continuou acompanhando as suas missas e momentos de orações de forma online, mas ela sentia que precisava fazer algo a mais, então passou a ligar para pessoas aleatórias oferecendo o seu tempo para conversar e ajudar de alguma forma. E muitas pessoas conversaram com ela.
Tudo estava indo relativamente bem, apesar da mudança de hábitos com a nova moradora na sua casa. Os pais de Guilherme moravam no interior, em um sítio, estavam aparentemente protegidos, porém, um dia o seu telefone tocou e a notícia que ele não queria ouvir estava prestes a ser dita.
Sua mãe positivou para a Covid-19 e com isso, ele precisou ir ficar com o seu pai no interior. A preocupação de Guilherme com a doença só aumentou e as notícias na televisão não eram muito animadoras também. Ele passou um tempo com o seu pai, acompanhamos o relacionamento deles e também o contato extremamente restrito que o seu pai conseguia obter com a sua mãe. Dias depois, seu pai positivou e não tardou muito para Guilherme também confirmar que estava com covid.
Guilherme piorou rapidamente e precisou ser internado. Nesse momento, o medo de internação era imenso, visto que ainda se sabia pouco sobre a doença, o tratamento e como seriam as reações dos pacientes. Enquanto estava internado, a sua angústia só aumentava. No seu quarto havia uma televisão que ficava passando notícias sobre a covid o tempo todo, e a cada notícia, a tensão aumentava.
O autor relatou alguns dos seus medos, como por exemplo, ter que ficar pelado na frente dos outros. Lutando pela vida, isso poderia parecer algo simples, mas considerando todo o contexto, era mais um motivo para o desespero. Conseguir se manter firme, com a cabeça no lugar, estava cada vez mais difícil. Como se tudo isso não bastasse, ainda tem o isolamento. Guilherme não tinha contato com ninguém além dos enfermeiros, não tinha notícias dos seus pais, da sua esposa, da sua família.
A cada nova interferência de algum enfermeiro, o medo só aumentava. O temor era que ele precisasse ser entubado, pois, aquela altura, estatisticamente, uma pessoa que fosse entubada, dificilmente sobreviveria. Os dias foram passando, isolado, com dores e sem notícias.
Situações cotidianas como tomar banho ou ir ao banheiro, eram momentos de sofrimento para Guilherme, pois ele não podia sair da cama, logo alguém precisava lhe auxiliar, ou seja, ele precisava ficar pelado na frente de algum estranho. Em um determinado momento, ele chegou até a se desculpar com os enfermeiros, por ter que fazer eles passarem por essa situação com ele.
Mas os problemas ainda não haviam terminado e ele ainda precisou passar por mais uma prova. Sua ala no hospital pegou fogo e ele precisou se salvar, ainda em condições desfavoráveis, devido à covid. Felizmente, essa história tem um final feliz, mesmo com tudo que ele e sua família tiveram que enfrentar, todos ficaram curados.
Em todo mundo, histórias parecidas com a de Guilherme aconteceram, mas muitas não tiveram finais felizes. Perdemos muitas pessoas por diversos motivos, falta de cuidados, negligências de autoridades, falta de recursos e mesmo assim, mais de dois anos depois que tudo isso começou, muitas pessoas continuam agindo como se o vírus não existisse, como se não fosse perigoso, como se nada precisasse ser feito. No momento que escrevo essa resenha, estamos com uma nova onda de contaminação, que a cada dia eleva mais uma vez os números de contágio.
Por fim, gostaria de destacar a arte da publicação, um traço cartunesco e com muita expressividade. Os seus tons de cinza conseguem passar exatamente o sentimento de tudo que aconteceu. Não acredito em leituras obrigatórias, mas recomendo fortemente que você conheça esse quadrinho, mas esteja avisado, pois o que você encontrará é forte e muitas vezes cruel. A HQ possui lombada quadrada, formato americano (17 x 26 cm), capa em papel triplex 250g, orelhas, miolo em papel pólen 90g e 88 páginas.