Não, não é totalmente de horror e não é o melhor trabalho do Junji Ito. Fragmentos do Horror é uma coleção de histórias curtas, oito contos no total, nos quais o autor vai utilizar a sua criatividade e experimentar diversos conceitos, como morte, um novo patrimônio histórico, dissecação, o fanatismo a um escritor e indecisão. E, claro, tudo isso com o bizarro e o horror envolvidos. A forma de contos da publicação é uma maneira muito boa de demonstrar esses conceitos, algo que não funcionaria muito bem para uma história longa, e o Junji Ito trabalha eles de forma rápida e bastante eficiente com a sua arte bem característica.
Porém, mesmo o Junji Ito fazendo histórias boas, nem sempre causa aquele impacto típico de sua obra, pois ele estava voltando aos quadrinhos de horror depois de uma longa parada. Para fazer uma comparação, pense em um jogador de futebol ou um guitarrista que passa um bom tempo sem fazer aquilo que ele executava com bastante eficiência e qualidade. Ele perde a prática e quando volta terá que treinar para retomar aquilo que um dia já foi, e assim com o Junji Ito, em Fragmentos do Horror, não é diferente. Se compararmos os 3 primeiros contos com o último, vemos o quanto ele retoma o seu ritmo muito rápido.
Dentre os contos presentes na publicação, vale destacar os seguintes:
Monstro de Madeira: Aqui temos um pai e uma filha que moram em uma casa a qual foi tombada como patrimônio cultural do país. Dentre as tantas visitas pela casa, temos a de uma arquiteta, que sente desejos bem peculiares pela tal casa. O autor utiliza a temática da casa mal-assombrada, algo comum em filmes de terror, e trabalha isso muito bem na história, sempre deixando o suspense com quem está a vir.
Tomio – Gola Rulê Vermelha: Simplesmente o Junji Ito trazendo parte da ideia do seu primeiro trabalho, intitulado Tomie (lançado pela editora Pipoca & Nanquim e tem resenha aqui no site). Nesta história é um homem que ao ir com a esposa para uma Taróloga, descobre que irá traí-la, o que se confirma posteriormente. Entretanto, a pessoa com que ele trai a esposa possui o costume de arrancar as cabeças de seus amantes. Não é o melhor conto, mas vale pela revisita ao seu antigo trabalho.
Suave Adeus: Esse na minha opinião, não é um conto de horror, é um conto bizarro, onde temos Riko, uma mulher, que desde a morte de sua mãe, sonha com a morte do pai. Quando ela se casa, descobre que a família do esposo, quando algum familiar morre, se reúne no funeral para ter em mente imagens residuais, uma espécie de fantasma.
A Mulher que sussurra: O último e melhor conto. Aqui, o Junji Ito voltou a sua forma, ele já tinha treinado em sete contos, e no oitavo ele manda bem, e como manda. Tendo o plot da história com uma menina muito indecisa e que por não decidir, seu pai sempre chama cuidadoras para tentar ajudá-la. Porém, todas ficam com os transtornos, até que chega Mitsu. A partir daí, a história ganha proporções “Junji Iticas“, com plot twists inexplicáveis.
No todo, Fragmentos do Horror é um material de volta do autor. Não é o seu melhor trabalho, mas também tem coisas boas, e serve como um bom divertimento para quem quer histórias mais curtas com uma dose do Terror/Horror. Além disso, a edição da Darkside é bem bonita, com o capricho habitual da editora.