Grama

5/5
Editora Pipoca e Nanquim
492 páginas
julho de 2020
Keum Suk Gendry-Kim

Sinopse

Grama é uma poderosa graphic novel antiguerra que narra a história real da sul-coreana Ok-sun Lee, vendida pela própria família na infância e forçada à escravidão sexual pelo Exército Imperial Japonês. Ela é uma das várias mulheres que foram capturadas para servir aos soldados nas chamadas “casas de conforto”, espalhadas pela China e por territórios ocupados pelo Japão durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa e a Segunda Guerra Mundial, em um dos episódios mais vergonhosos do passado da humanidade. Ok-sun Lee, hoje com mais de 90 anos, se tornou uma importante ativista pela indenização das “mulheres de conforto”, e é por meio de seus relatos à autora Keum Suk Gendry-Kim que acompanhamos sua triste história de vida.

Resenha

Durante a história da humanidade, já nos deparamos com diversos momentos em que mostraram que o ser humano, pode ser a criatura mais cruel que existe. Muitas guerras já aconteceram e ainda acontecem e sempre as pessoas que mais sofrem com elas são as que, sem culpa nenhuma ou sem querer, são inseridas nesse cenário.

Acho complicado fazer comparações, aliás, não gosto disso, mas é impossível não comparar essa obra com Maus, que também já teve resenha aqui no site. Não estou comparando o sofrimento das pessoas envolvidas, muito menos querendo dizer que uma coisa é pior que a outra, mas a forma que a história é contada, tem muitas semelhanças.

Aqui somos apresentados a história de vida de Ok-Sun Lee, desde o começo, na sua infância pobre, com inúmeras dificuldades. Fome, total falta de condições de moradia e vestimenta, preconceitos, entre outros. Essas dificuldades, fizeram com que a sua família tomasse uma difícil decisão, deixar sua filha ser “adotada”, uma prática que acabou sendo comum naquela época. A esperança era que a filha tivesse uma vida melhor, mas na prática, a pessoa era comprada como uma mão de obra barata para trabalhar, ou para ser entretenimento em bares, ou pior ainda, para ser vendida para casas de prostituição.

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Fonte: Grama

Antes mesmo da guerra piorar, Ok-Sun já tinha passado por duas famílias e já tinha sofrido muito, talvez mais do que muitos aguentariam por uma vida toda, porém ela tinha apenas 15 anos. E foi nessa época que o pior de todos os acontecimentos da sua vida chegou, sequestrada, ela foi levada para as chamadas “Casas de conforto”. Essas casas foram uma maneira que o governo japonês na época encontrou para evitar uma revolta e ao mesmo tempo satisfazer os seus soldados que estavam lutando na guerra. A cada conquista de território, os soldados cometiam todos os tipos de abuso com mulheres e crianças, o que gerou um temor do governo japonês, pois um dos objetivos ao conquistar territórios, era recrutar os homens para o seu exército e com esses abusos, eles temeram uma revolta da população.

A história relata de uma maneira surpreendentemente leve acontecimentos horríveis, a autora tentou ao máximo contar a história sem expor, ainda mais, os envolvidos. A protagonista relata momentos de muito sofrimento e angústia, sem esperança de um futuro melhor. Os abusos que eram cometidos nas “casas de conforto”, com o aval do governo japonês, duraram durante toda a guerra, mas as marcas desse acontecimento, ficaram para sempre.

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Fonte: Grama

Mesmo depois que a guerra terminou, Ok-Sun ainda passou por muitas dificuldades, passou por dois casamentos que não tiveram desfechos agradáveis e mais de 50 anos depois de tudo isso, quando finalmente se reencontrou com sua família, mais uma vez foi deixada de lado, quando eles descobriram o que ela havia passado.

Não quero dar muitos detalhes dos acontecimentos relatados pela protagonista da história, pois acredito que o impacto ao ver na história seja maior e, de forma alguma eu quero diminuir o que aconteceu. Ao contrário do holocausto, que teve seus acontecimentos amplamente divulgados ao longo da história, o que é contado aqui, por muito tempo ficou escondido, somente após mais de 40 anos começou-se a tocar no assunto e mesmo assim, não é algo que todo mundo saiba. Aliás, até hoje o governo japonês não admite publicamente tudo o que aconteceu.

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Fonte: Grama

Hoje em dia, ainda não há uma indenização para as vítimas, não há um reconhecimento devido da história, não há sequer um pedido de desculpas. O grande mérito de Grama é nos mostrar esse gravíssimo crime de guerra em uma narrativa leve e chocante ao mesmo tempo, sempre com ênfase na força e determinação de sua protagonista para superar adversidades e manter-se viva.

“Mesmo derrubada pelo vento e pisoteada por muitos, a grama sempre se reergue.”

Keum Suk Gendry-Kim

Sobre a edição em si, a editora Pipoca & Nanquim está mais uma vez de parabéns. O quadrinho possui 492 páginas em papel offset 90g, capa dura, com sobrecapa com verniz localizado, lombada redonda e fitilho de tecido, com um acabamento perfeito, como é o padrão da editora.

Classificação:
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