“O diretor me acompanhou até a saída. Agradeci-lhe por seu tempo e disse que estava grato pela ajuda do médico. Perguntei quanto tempo fazia que o Dr. Salazar trabalhava ali.
– Hombre! Você não sabe quem ele é?
– Não. Nós conversamos sobre Simmons.
O diretor parou na escada e se virou para mim.
– Aquele homem é um assassino. Como ele é cirurgião, sabia colocar a vítima em caixas bem pequenas. Ele nunca vai sair daqui. O sujeito é louco.
[…]
Anos mais tarde, eu estava tentando escrever um romance. Meu personagem, um detetive, precisa falar com alguém com um entendimento especial da mente criminosa. Perdido no enredo da obra, eu seguia meu detetive quando ele foi consultar um preso no Hospital Estadual de Baltimore para Criminosos com Transtornos Mentais. Quem você acha que estava esperando na cela? Não era Dr. Salazar. Mas por causa do Dr. Salazar pude reconhecer seu colega de profissão, Hannibal Lecter.”
Thomas Harris
O trecho acima foi retirado da nota do autor escrita em comemoração aos 25 anos da edição original que está presente na edição brasileira publicada pela Editora Record.
E assim nasceu um dos personagens mais icônicos da literatura e do cinema, Hannibal Lecter. O magnifico psiquiatra canibal.
O Silêncio dos Inocentes é o segundo volume de uma quadrilogia. Sendo o primeiro volume Dragão Vermelho, o terceiro Hannibal, o quarto e último Hannibal: a origem do mal. Mas isso não faz com que seja necessário ler Dragão Vermelho para que a história seja entendida. O livro se sustenta por si só, apesar de algumas passagens fazerem menção a acontecimentos ocorridos no primeiro volume. Mas isso não é nada que prejudique a história principal aqui narrada. Então sim, você pode lê-lo por primeiro, como a grande maioria dos leitores provavelmente faz.
Se você não vive em alguma outra dimensão, já deve ter visto a adaptação para o cinema com o incrível Antony Hopkins (poucas coisas causam tantos arrepios na espinha quanto ele encarando a tela sem piscar!) e já deve conhecer bem a história, mas se você, assim como eu, assistiu apenas uma única vez ou não assistiu e precisa de uma ajudinha com a história, vamos a ela.
Nossa protagonista Clarice Starling, estudante destaque na academia Quantico, é convocada por Jack Crawford, chefe da divisão do FBI, conhecida como Ciência do Comportamento. Ela é chamada para que vá até o Hospital Estadual de Baltimore para Criminosos com Transtornos Mentais, e converse com ninguém mais, ninguém menos que o Dr. Hannibal Lecter e o convença a responder um questionário preparado para tentar montar o perfil psicológico de assassinos em série. E é dessa maneira que a convivência entre Hannibal e Clarice tem início. Obviamente, ele vai achar o questionário ridículo e tentará convencer Clarice a falar com Jack para que ele possa ajudar no caso que o FBI esta investigando, um serial killer conhecido como Buffalo Bill, que mata e esfola suas vítimas (sempre mulheres) e as desova em rios de cidades aleatórias. Crawford não aceita a ajuda de Lecter, mas Lecter fala de uma pista para Clarice que ela decide investigar.
E a partir das informações que Lecter passa a Clarice, que batem com a próxima vitima encontrada, Crawford permite que Clarice continue a tentativa de arrancar informações de Lecter. Mas em troca dessas informações, Lecter faz perguntas pessoais para Clarice. Quid pro quo (Toma lá dá cá).
As coisas começam a ficar realmente sérias (como se já não estivessem) quando Buffalo Bill sequestra a filha de uma senadora, e a medida que a história vai se desenrolando, a investigação vai tomando forma para chegarem a um culpado.
Quando assisti o filme, achei chato e meio lento, achei que não merecia todo o burburinho. Então resolvi dar uma chance ao livro e na primeira versão dessa resenha eu havia escrito que a narrativa, apesar de fluida, não havia me cativado. Mas agora que parei para pensar na história, começo a gostar mais dele.
Hannibal é o tipo de vilão que é difícil desgostar (apesar de tudo). Me peguei pensado: “Bem feito! Ninguém mandou subestimar ele.” Quando na verdade era um dos momentos não muito legais dele…
O fato de você ter a visão de boa parte dos personagens é bem interessante, pois você fica sabendo o que está se passando com cada um, inclusive, o próprio assassino. Então sim, lá pela metade do livro você já descobre quem é o Buffalo Bill. Mas isso não estraga a história de maneira nenhuma. Ver o que se passa dentro da cabeça dele é muito sinistro, quando ele descreve como lida com a pele das vítimas, gera um certo desconforto no estômago.
Então, meu conselho é, leiam e tirem suas próprias conclusões. E se você, assim como eu, não achar grandes coisas na primeira leitura, dê um tempinho e veja se a história não volta a sua mente e começa a parecer mais interessante. Se não parecer, tudo bem também, não terá sido uma perda de tempo.
E quanto a mim, provavelmente vou reassistir ao filme para ver se não mudo de opinião, afinal, não seria a primeira vez.