A história é livremente inspirada na obra de sir J.M. Barrie, Peter Pan, porém, não se deixe enganar pelo título, essa não é uma obra para crianças. Dito isso, vamos à história. No começo deste primeiro volume, temos a história de uma Londres decadente do século XIX, um lugar tomado pela crueldade, onde os mais fracos não tem vez e a inocência é roubada das crianças.
Peter, um menino que gosta de contar histórias, fantasia uma mãe adorável e amorosa, porém o que vemos aqui é algo bem diferente. O menino é ajudado por um senhor, o Doutor Kundal, que lhe oferece comida e o ensina a ler, o que acabava despertando a inveja de algumas pessoas. Sua mãe é uma pessoal terrível e, após mais um episódio de fúria, obriga Peter a ir comprar mais bebida para ela. Como não tinha dinheiro, ele acaba em uma situação muito constrangedora, ainda mais por ele ser uma criança.
Após conseguir a bebida, ele se encontra novamente com o Doutor Kundal. O doutor decide lhe entregar um livro, alegando ser do pai de Peter, um livro cheio de histórias para que ele possa ler. Voltando para casa, Peter é atacado por um homem que quase o abusa sexualmente, mas felizmente ele consegue escapar. Quando ele finalmente está chegando em casa, Peter derruba a garrafa de bebida que havia comprado para sua mãe, aumentando a sua fúria. Esse episódio é determinante para Peter fugir de casa e é a partir daí que as coisas começam a mudar.
Peter é encontrado pela fada Sininho e ela o convence que ele também pode voar. Com isso ela o leva para uma ilha, um lugar fantástico, onde vivem diversas criaturas. Não é citado na história, mas essa ilha é a Terra do Nunca. Assim que eles chegam, logo se deparam com um conflito com os piratas, que estão atrás de um tesouro. Aqui somos apresentados ao Capitão Gancho, um tanto quanto diferente do personagem de Barrie. Sininho acredita que Peter pode ser a salvação para os habitantes da ilha e que ele irá expulsar os piratas, por isso tenta convencê-lo a sair dali.
Peter está confuso e não sabe como foi que chegou a ilha. Inicialmente o Capitão quer se livrar do menino por pensar que ele não seria útil, porém, ao provar que saber voar, Peter é convidado para ser um pirata, ignorando completamente a fada que o levou até ali. Sininho conta para as criaturas da ilha que o seu salvador está no navio com os piratas, fazendo com que eles tenham que planejar uma maneira de resgatá-lo. Durante esse resgate, algumas coisas não acontecem como o planejado e mais algumas confusões estão garantidas.
Após esse começo mais pesado, na segunda história desse encadernado temos o foco na aventura, apesar de ainda termos alguns momentos brutais. É perceptível a diferença que o autor empregou nas cores ao retratar Londres, um lugar mais realista, e ao retratar a ilha, um lugar repleto de fantasias, porém ambos são igualmente perigosos.
Essa série publicada em três volumes pela editora Nemo, vendeu mais de 1 milhão de exemplares na França e foi vencedora do prestigiado Festival de Angoulême. Uma história pesada, com momentos até desconfortáveis, porém com uma arte incrível. Uma excelente leitura de uma linda edição publicada no Brasil.