Se você leu a sinopse dessa sobra, você já sabe que Jeffrey Dahmer é um assassino, porém não espere encontrar aqui uma história extremamente violenta, detalhando os crimes horríveis que foram cometidos. A história que Derf nos conta é de antes de tudo isso começar.
O autor explora a adolescência do homem que viria a ser conhecido como “Canibal de Milwaukee”, tentando entender como tudo aconteceu e também nos trazendo a sua visão, afinal, os dois foram colegas na escola. Em nenhum momento ele quer justificar os atos de Dahmer, mas deixa o alerta para que isso não aconteça novamente no futuro. Os sinais já estavam lá, mas ninguém viu ou não quis ver.
Dahmer era um adolescente solitário, que sofria bullying. Ele era invisível para todos, com isso mudando somente quando resolviam encher o seu saco ou mesmo bater nele. Na época, ele morava com os pais e o irmão mais novo, mas sua família era complicada, as brigas eram constantes, o que mais tarde levou a separação do casal.
Sua mãe tinha a saúde frágil, além de problemas psiquiátricos sérios e convulsões. Já o seu pai era um químico e trabalhava nas indústrias da região.
Com o passar do tempo na escola, Dahmer cresceu, era alto e forte, porém nunca reagia as agressões que recebia. Uma das formas que encontrava para tentar se enturmar, era imitar as convulsões da sua mãe (algo que ninguém sabia que acontecia) e com isso garantia algumas risadas.
Outro ponto na vida de Dahmer foi a descoberta da sua sexualidade, isso era mais uma coisa que o incomodava, fazendo com que o adolescente já reprimido sofresse ainda mais. Tentando afastar todos os pensamentos ruins da sua mente, Dahmer começou a beber.
Com 15 anos ele já era um alcoólatra e seus colegas conseguiam perceber o seu cheiro de bebida sempre que se aproximavam.
Ele tinha um desejo incontrolável de “ver as coisas por dentro” e assim ele torturava alguns animais que encontrava atropelado perto da sua casa, para poder ver os seus ossos. Foi mais ou menos nessa época que ele se interessou por um corredor que passava diariamente em frente da sua casa.
Mas Dahmer queria ter um controle total sobre ele e para isso, o corredor teria que ser um cadáver.
Após a separação dos seus pais as coisas pioraram, um adolescente que havia sido negligenciado por muitas vezes, agora estava mais sozinho do que nunca e com os seus desejos cada vez mais fortes.
A formatura e a entrada para a vida adulta foi o abismo para Dahmer, que acabou se tornando um assassino em série. Em 1991, os crimes de Jeffrey Dahmer vieram à tona: necrofilia, canibalismo e uma lista de pelo menos 17 mortos, entre homens adultos e garotos. Sendo que o primeiro assassinato teria acontecido meses após a formatura no colégio.
Um dos pontos alto da HQ são os questionamentos do autor sobre os adultos. Onde eles estavam? Nunca reparam no adolescente estranho e solitário que estava quase sempre bêbado? Ninguém nunca teve tempo para ele? Será que se alguém o tivesse ajudado, as coisas poderiam ter acontecido diferentes?
Para a realização dessa HQ, o autor remexeu nos seus velhos cadernos e álbuns de fotografia, mas também consultou seus amigos de adolescência, antigos professores, os arquivos do FBI e a cobertura da mídia após a descoberta dos crimes. Havia muitas histórias do garoto que costumava fingir surtos epilépticos, que exagerava na bebida antes mesmo de ir para a aula e parecia ter uma fixação em dissecar os animais atropelados que encontrava perto de casa.
Mas uma pergunta que o autor deixa é que, seria possível prever os caminhos sombrios pelos quais Dahmer seguiria? Seria possível evitar tamanha tragédia?
Ao final da leitura, o autor nos traz as fontes da sua pesquisa, cenas cortadas e uma descrição das pessoas envolvidas na vida de Dahmer. A arte de Derf pode não agradar a todos, mas desde que vi pela primeira vez me chamou atenção. Por fim, a edição da Darkside está belíssima, com o capricho habitual da editora.